Valorizar o trabalho político entre as mulheres — Voz Operária, 1966
[texto publicado no jornal Voz Operária, n. 17, em maio de 1966, extraído do Arquivo Público do Estado do Paraná, disponível em PI 3639.488, p. 21.]
Uma das principais condições para desenvolver o trabalho de massas é saber valorizar o papel político da mulher. É nesse sentido que assume posição destacada o trabalho feminino. E é por isso que o trabalho específico entre as mulheres constitui um dos elementos permanentes da atividade dos comunistas. Este trabalho não pode ser desprezado. Quando não desenvolvemos trabalho específico entre as mulheres, deixamos o campo livre para o trabalho do inimigo.
O trabalho específico entre as mulheres constitui, assim, um valioso reforço do trabalho de massas. Através da luta pelas reivindicações próprias à condição da mulher, é possível atrair um poderoso contingente feminino à luta política de oposição e combate à atual ditadura militar entreguista.
Ao trabalhar entre as mulheres é preciso ter em conta que o mais importante é o trabalho de base e não apenas o trabalho com as personalidades. Sejam quais forem as circunstâncias, nossa preocupação deve estar voltada para a construção de um movimento de baixo para cima. O trabalho com as personalidades é um complemento, e, ainda que não se deva renunciar a ele, será sempre necessário ter como lastro o trabalho pela base. Isto quer dizer que é obrigatório trabalhar onde quer que haja grandes aglomerados de donas de casa ou concentrações da mulher trabalhadora.
Devemos ter em vista ao mesmo tempo que nenhum trabalho específico entre as mulheres poderá ir avante, se não for realizado à base da frente única. As mulheres das mais variadas tendências devem ser chamadas à luta. Trata-se de uni-las em torno de questões de interesse comum, para que participem da luta política e sejam assim libertadas do obscurantismo e da opressão a que são relegadas pelos inimigos de nosso povo, particularmente o imperialismo e o latifúndio. Uma das questões importantes nessa frente única é levar em conta a aliança com os setores católicos femininos empenhados na luta pelas reformas e opostos à ditadura atual. Estes setores oferecem condições favoráveis à unidade de ação, indispensável para o levantamento das lutas das mulheres.
Cabe aqui destacar a importância das lutas pelas reivindicações. É improvável que o trabalho feminino específico venha a dar resultados, se não levar em conta as reivindicações que interessam às mulheres. Uma dessas reivindicações de considerável importância é a luta contra a carestia.
Grande importância política também, deve ser atribuída ao trabalho de solidariedade das mulheres.
O dever dos comunistas é apoiar, desenvolver e estimular o trabalho específico entre as mulheres. Uma das práticas usuais, entretanto, é retirar as mulheres do trabalho específico feminino, deslocando-as para o trabalho de finanças. Tal prática é condenável, pois com isso se desfalca o trabalho de massas. Por certo, não é obrigatório que todas as mulheres pertençam ao trabalho específico. As que se encontram no desempenho dessa tarefa não devem, porém, ser deslocadas arbitrariamente, em prejuízo do trabalho específico feminino. Não é igualmente recomendável ter uma comissão única encarregada ao mesmo tempo do trabalho feminino, do trabalho juvenil e outras atividades. Dada a diversidade dos problemas e a importância de que se revestem não tem cabimento misturá-los. O trabalho feminino — em quaisquer circunstâncias — deve ser afeto a uma comissão feminina com caráter específico. Simultaneamente, o trabalho feminino é um trabalho do conjunto partidário, que por toda a parte deve facilitar a atividade política das militantes e ajudar a desenvolver o trabalho específico entre as mulheres como arma poderosa do trabalho de massas.