Sobre a fundação do Sindicato de Santa Helena — Espedito Rocha

somos de acá
2 min readAug 23, 2022

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Eu mesmo tive a oportunidade de sair daqui nos anos 60 para fundar sindicato em Santa Helena. Lá havia dois tipos de posseiros: um cidadão chamado “posseiro” e o outro “enferrujado”. O posseiro enferrujado era o que ficava na vanguarda, com arma em punho para garantir a posse da terra. Arma em punho! Eu cheguei a ver metralhadoras pesadas instaladas dentro daquela mata. Era um sacrifício tremendo a missão de fundar o sindicato lá em Santa Helena, pois para se chegar naquele lugar tinha que ser com carro de tração nas quatro rodas. No dia que nós chegamos, foi por volta das quatro horas da tarde. Quando foi ali por volta das seis horas da mesma tarde, chegou o comando da polícia, com vinte e poucos homens comandados por um tenente, para proibir a formação do sindicato. Nos chocamos logo de início e o tenente disse:

– “Mas você é camponês? –

Ao que eu lhe digo:

– “Não sou”. E ele:

– “Mas eu o conheço?”

– “É possível que o senhor me conheça. Eu sou de Curitiba”.

– “Ah! Uma vez o conheci numa assembleia da construção”.

(Ele fazia espionagem. E eu disse:)

– “É isso mesmo! Conheceu mesmo”.

– “O que veio fazer aqui?”

– “Vim fundar o Sindicato dos Trabalhadores”.

– “Mas é proibido. O governo não aceita!”

– “Nós não devemos homenagem nenhuma ao governo. Isso é um movimento que diz respeito à lei federal e nós não vamos obedecer”.

E chegou a ponto de eu dizer pra ele:

– “De mais a mais, se o senhor quer se sair bem, vá embora enquanto é tempo, porque amanhã cedo eu não sei se o senhor terá condições de ir embora por essas picadas. Nós vamos fundar o Sindicato de qualquer maneira. E eu não sei se depois do que acontecer aqui o senhor terá condições de sair”.

Começaram, então, a aparecer os posseiros que estavam injustiçados. O tal tenente comeu alguma coisa e sumiu. No outro dia nós fundamos o Sindicato. O processo sindical custou muito suor. Foram extremamente difíceis essas lutas.

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