Revolução de 64, presente de grego (1968)

somos de acá
2 min readApr 2, 2023

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Manifesto publicado pelo Centro Acadêmico Hugo Simas em 31 de março de 1968, extraído do Arquivo Público do Estado do Paraná, disponível em BR PRAPPR.PB004.PT1306.152, p. 37.

Há exatamente quatro anos, as forças mais retrógradas da nação, sentindo aproximar-se o dia em que os seus privilégios chegariam ao fim, perpetraram o mais hediondo golpe de que se tem notícia nos anais da história pátria.

Exatamente no dia 31 de março de 1964, o vice-presidente da República, que completava o mandato do presidente renunciante, era afastado do cargo para dar lugar a uma nova casta, a uma oligarquia verde-oliva, sedenta de poder e de glória.

A partir de então, temos vivido num regime de opressão e de terror.

Cassou-se mandatos e caçou-se, diga-se de passagem, personalidades ilustres da vida pública brasileira, bem como verdadeiros expoentes da inteligência e da cultura nacional, cujo único pecado foi o de não lerem pela cartilha dos novos donos do poder.

Espezinhou-se a massa obreira da nação, com um salário de fome, impelindo-a a morrer de inanição, em consequência de um “Arrocho Salarial” desumano.

Tirou-se do povo o direito de ele mesmo escolher os seus próprios dirigentes.

Impôs-se uma “Lei de Imprensa” atrabiliária e tentou-se impingir-nos uma “Lei de Segurança Nacional” tipicamente fascista, no intuito de fazer calar as poucas vozes que se levantavam contra os desmandos da “generalocracia” brasileira.

Negou-se aos estudantes o direito de participar dos debates em torno dos problemas nacionais.

E agora, para coroar a sua nefasta missão, para comemorar o seu 4º aniversário de desserviços prestados à Nação, a cúpula dirigente resolve desencadear a mais feroz campanha contra os estudantes brasileiros, por repudiarem estes uma Reforma Universitária lesiva aos interesses nacionais. E nesta repressão é imolado um jovem de apenas 18 anos — Edson Luiz Lima Souto.

Que crime hediondo teria ele cometido?

Desejou pura e simplesmente viver num país onde fossem respeitados os mais sagrados direitos dos cidadãos; num país onde pudesse aprender a ler, para melhor garantir o seu sustento; num país onde os seus mestres lhe ministrassem as lições no idioma pátrio; onde enfim, pudesse, ele mesmo, escolher a sua própria profissão, sem interferência, alienígenas.

O assassinato de Edson Luiz não é um fato isolado. Ele faz parte de todo um esquema de repressão preparado para intimidar os estudantes brasileiros, para que estes assistissem sem qualquer resistência, a falência de suas Universidades a sua transformação em Fundações a soldo dos capitais monopolistas internacionais, cuja sede é Wall Street.

Descansa em Paz, porém, Edson Luiz! Nós continuaremos a tua luta!

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