Organizar e Educar, Victorio Codovilla
Da IV Conferencia Nacional del Partido Comunista, realizada en diciembre de 1945, transcrita em ‘Vigencia y Proteccion’, seleção de trabalhos de Victorio Codovilla.
Passo agora ao esclarecimento de alguns dos problemas essenciais de nosso partido. Como já foi dito no começo do informe, creio que podemos afirmar sem arrogância que nosso partido tem saído com honra da prova de fogo destes últimos anos de atividade clandestina, que demonstrou saber lutar com espírito de abnegação e com constância ferrenha em defesa dos interesses de nossa classe operária e de nosso povo, pela liberdade e a independência da Nação. Hoje temos um partido forte e unido. Um Comitê Central que conta com o apoio e o carinho de todo o partido, e que goza de autoridade na classe operária e no povo. Saídos do cárcere, da ilegalidade e do exílio, cada um dos camaradas dirigentes soube ocupar com justeza o lugar que o partido lhe designou. A família comunista está mais unida que nunca, e os quadros de nosso partido crescem continuamente.
Este fato, que nos deve encher de satisfação e orgulho como combatentes antifascistas, nos deve dar também a justa noção das novas e maiores responsabilidades que adquirimos frente à classe operária, nosso partido e nossa Nação. As razões que determinaram os progressos de nosso partido, já expus no início deste informe. O povo argentino demonstra cada dia mais sua adesão e seu carinho para com nosso partido porque sempre lhes dizemos a verdade, e porque eles nos veem na ação. Em nosso transcurso cometemos erros, mas quando os cometemos tivemos o valor cívico de declará-lo, e, baseando-nos nos ensinamentos de Lenin, temos nos esforçando para “descobrir a causa do erro, analisando a situação que lhe deu a luz, examinando atentamente os meios para corrigi-los”.
Se o nosso partido experimentou um crescimento considerável, creio que todos os camaradas convenham que estes êxitos não nos devem subir à cabeça. Não devemos crer que, com o aumento de nossos quadros, e porque temos estendido nossa organização ao largo de todo o país, o partido já está consolidado orgânica e politicamente. Podemos e devemos transformar-nos no grande partido da classe operária e do povo, mas ainda não o somos. Para chegarmos a ser, é necessário enquadrar solidamente na organização os novos afiliados, dar-lhes tarefas concretas de acordo com suas possibilidades e suas aptidões, educá-los politicamente e, sobretudo, conseguir que assimilem o essencial da teoria marxista-leninista.
Na medida em que nos preocuparmos da educação do partido, de acordo com a máxima leninista de ligar a teoria à prática, evitaremos que existam comunistas doutrinários ou abstratos, e comunistas praticistas limitados a seu trabalho rotineiro.
Isto é tanto mais necessário porque nos últimos anos, nas condições de trabalho clandestino, com reuniões espaçadas e organismos de base formados por um número reduzido de membros, foi difícil realizar discussões amplas de caráter política e aplicar métodos educativos coletivos. Agora existem organizações de bases amplas, locais para reuniões, e não há motivo para que os organismos do partido sigam tendo somente órgãos executivos, ao invés de ter organismos políticos em que sejam discutidos todos os problemas a fim de que seus membros estejam melhor armados para a aplicação da linha política e tática do partido.
Para enriquecer este trabalho de educação dos membros do partido, assim como da classe operária e do povo, o partido conta com historiadores, poetas, romancistas, artistas, médicos, engenheiros, arquitetos e economistas que se empenham em assimilar a doutrina marxista-leninista. É preciso que o partido lhes facilite oportunidades e formar de colocar-se em contato com os filiados e com as massas populares, a fim de que ensinem e aprendam com o partido e com o próprio povo.
Praticar a democracia interna
Este problema está estreitamente ligado ao da prática de uma ampla democracia no seio das organizações do partido. A democracia interna é uma das condições essenciais para o desenvolvimento das organizações políticas populares. Os comunistas as têm construído sempre nas condições de legalidade. É sabido que o princípio básico em que reside a força de nosso partido é a unidade de ação de nossos membros e a disciplina voluntariamente admitida. Mas justamente, para que a disciplina e a unidade de ação no partido sejam cada dia mais fortes e mais eficazes, é preciso que no seio das organizações do partido se discutam as diversas opiniões, que se permita a crítica, que se pratique a autocrítica, única forma de que a linha política e tática do partido seja o resultado da elaboração comum, e que seja aplicada sem reservas. Isso servirá também para demonstrar a alguns dos novos filiados que durante certo tempo estiveram na porta do partido, e a outros que ainda o estão, apesar de estar de acordo com sua política, que seu temor à disciplina comunista, que lhes aparece algo como uma disciplina cega, de quartel, é infundado, porque a nossa disciplina é a que consciente e livremente estabeleçam seus próprio filiados de forma democrática. Assim, em nosso partido não há lugar para lutas de frações, de grupos ou tendências, que conduziriam à formação de vários centros dirigentes, paralisando assim a ação do partido ou levando-o a sua desagregação. Tal liberdade de ação no seio de nosso partido, nós a entendemos. A experiência nos demonstra que partidos políticos poderosos tiveram sua ação travada em momentos decisivos, porque precisamente, havia grupos e tendências que reivindicavam a tradição política do partido e o direito de dirigi-lo. Nossa disciplina se baseia na aceitação da linha depois desta ser discutida. Mas tomada a decisão pela maioria, desaparecem maioria e minoria, a decisão tomada é obrigatória para todos e o partido em seu conjunto lhe aplica sem reservas. Esta é a força de nosso partido, e essa força não devemos renunciar.
Por que é necessário recordar estes princípios, que para nós, os velhos filiados, são óbvios? Justamente, para que lhes levem em conta os novos filiados que se aproximam de nosso partido. Para que eles saibam quais seus direitos e quais seus deveres, e para que sejam também — e isso lhes deverá ser ensinado através do estudo da história do nosso partido — que para manter a pureza de nossos princípios, a firmeza na aplicação de nossa linha política e tática, não somente temos tido que combater contra nossos inimigos de fora, mas também contra inimigos que surgem de nossas próprias fileiras, que querem empurrar o partido em direção à derrota, comprometendo assim sua linha política independente do partido da classe operária e do povo.
Forjar o grande partido da classe operária e do povo
Quanto aos problemas relacionados à organização do partido, me limitarei a tratar somente alguns de caráter geral.
Creio que todos os camaradas concordarão que um dos problemas essenciais que nosso partido tem que resolver no momento é o de sua organização. Nosso partido cresce impetuosamente. Operários, camponeses, empregados, profissionais, intelectuais, artistas, pessoas avançadas em diversos setores sociais, ingressam em nossas fileiras. Bem-vindos sejam a nosso partido, que é seu. Mas o desenvolvimento do partido tem ainda caráter de espontaneidade. Muitas de nossas posições que conquistamos ainda não estão consolidadas. Não existe um recrutamento constante e metódico, planejado. Não devemos nos esquecer que, se nosso partido deve ser um partido amplo, que se esforce para reunir em seu seio os operários e os elementos avançados de todos os setores sociais, deve conservar e estender sua estrutura proletária. O predomínio dos operários — e sobretudo dos operários das grandes indústrias — ao largo de toda a organização do partido, é a garantia de que este inspirará sua ação, com firmeza, nos princípios do marxismo-leninismo, pois a classe trabalhadora é a mais homogênea, a mais progressista e a mais consequentemente revolucionária.
Por isso é preciso que cada uma de nossas organizações, de acordo com as características econômicas e sociais de sua província ou território, estabeleça um plano de recrutamento, orientado às grandes fábricas, às grandes indústrias, às grandes empresas e aos diversos ramais de transporte. Nas regiões agrícolas, aos trabalhadores assalariados. Isso não quer dizer, é claro, que vamos nos descuidar ou desalentar no recrutamento de outras camadas sociais; mas, repito, o essencial é que o partido mantenha e amplie seu caráter de partido proletário.
Uma última observação sobre o problema de organização. Os camaradas devem levar em conta que a organização deve servir para a melhor aplicação da linha do partido, e, por consequência, deve ser construída de modo a aproximar os organismos do partido das massas, e não de modo que as massas tenham que sair em busca dos organismos do partido, como tem acontecido frequentemente. Quer dizer que os organismos de base do partido devem ser criados no seio das próprias massas, em seus locais de trabalho, em seus locais de moradia. É preciso recordar que somos o partido da classe operária e do povo! Que em nossas fileiras militam operários, camponeses, empregados, pequenos industriais, profissionais, intelectuais, artistas e pessoas avançadas em todos os setores sociais! Por isso a organização deve ser construída de tal maneira que permita aos militantes desenvolverem sua atividade principal no local de trabalho ou no setor social ou organismo de massas adequado à sua condição social e a suas aptidões.
Quanto aos métodos de direção, devem basear-se nestes princípios: direção coletiva e responsabilidade individual.
O que isso quer dizer? Quer dizer que todos os problemas essenciais devem ser discutidos e encaminhados nos órgãos regulares de direção do partido; que a responsabilidade na aplicação das decisões deve ser coletiva; mas que cada um dos membros dirigentes do organismo do partido é ao mesmo tempo responsável pessoal do cumprimento da tarefa que lhe foi designada. Direção coletiva significa também que não há espaço para homens que se consideram “indispensáveis” em todos os campos, ou seja, que se consideram uma orquestra. Quer dizer, para homens que creem que eles são capazes de dirigir a organização do partido e dos organismos de massas, e que por conseguinte não deixam espaço para novos quadros.
Promover novos quadros dirigentes
O problema dos quadros deve ser a preocupação constante das organizações de nosso partido, desde o Comitê Central até as organizações de base. Para isto é preciso aprender a conhecer melhor os nossos militantes, e não somente conhecê-los pessoalmente, mas sim saber descobrir suas qualidades e suas debilidades ao designar-lhes tarefas, ou fazê-los subir a postos de direção que correspondam a suas atitudes e a suas inclinações. Nunca pode-se forçar um camarada a ocupar um posto ou a realizar uma tarefa que não corresponda a suas aptidões, pois, salvo exceções, esse filiado não renderá o que deve render. Não se deve colocar um camarada que tem aptidões de propagandista, por exemplo, em um trabalho de organização, ou vice-versa.
É preciso que sejamos solícitos com os quadros e os ajudemos a solucionar os problemas difíceis, de modo que possam educar-se politicamente e dar maior atividade ao partido. E, sobretudo, não podemos ser impacientes frente aos erros que possam cometer os novos quadros, mudando-os bruscamente de cargo ou função por considerar-lhes incapazes de cumprir sua tarefa. É preciso que os ajudemos fraternalmente a corrigir os erros e a superar as dificuldades, e somente no caso que se comprove que eles não estão em condições de superá-las, teremos que mudá-los de posto de trabalho, mas sem humilhá-los. Não podemos esquecer que todos nós, velhos dirigentes e velhos filiados, cometemos muitos erros antes de aprender a dirigir ou a encontrar o posto de trabalho que melhor correspondiam a nossas aptidões.
Que condições devem reunir os filiados para que sejam promovidos audaciosamente a postos de direção? As que foram verificadas como justas pela experiência internacional e por nossa própria experiência, ou seja:
1 — fidelidade ao partido; ter demonstrado inteireza frente ao inimigo nazifascista e seus torturadores.
2 — ligação estreita com a classe operária e o povo, a fim de que a autoridade dirigente não seja imposta de cima, mas que tenha raízes na confiança depositada nela pelas massas por sua tenacidade e fidelidade na luta por seus interesses.
3 — espírito fraternal com os companheiros do partido, com os aliados e com todo o povo. Modéstia. Ensinar e aprender com as massas populares.
Temos que promover com audácia os jovens e as mulheres. Sobre o problema da promoção de quadros jovens, creio que não há maiores dificuldades no partido. Ao invés disso, me parece que não acontece o mesmo no que diz respeito à promoção de quadros femininos. Aqui sim o preconceito tradicional burguês, que subestima a capacidade política da mulher, reflete também em nosso partido. É preciso recrutar audaciosamente filiadas mulheres, e é preciso também promovê-las a postos de direção e responsabilidade. E, de fato, nesta mesma Conferência o número de delegadas mulheres não corresponde nem ao número de filiadas femininas de nosso partido nem à compreensão do papel político desempenhado pelas mulheres no momento atual.
Creio que os camaradas concordarão com a direção do partido que o Comitê Central que excepcionalmente será eleito nesta Conferência, deverá ser incorporada uma boa porcentagem de mulheres, e que os quadros femininos sejam eleitos na mesma proporção para integrar os comitês provinciais, de bairro, etc.
Em relação à promoção de quadros, é preciso levar em conta que o partido necessita de constante renovação; que deve fazer circular sangue novo nas veias de sua organização, gente jovem, que traz não somente a inquietude própria da juventude, mas também novos métodos de trabalho, mais de acordo com os tempos modernos.