As candidaturas populares no Paraná em 1954
O Partido Comunista Brasileiro, hoje centenário, passou mais da metade de sua vida na clandestinidade, como um Partido ilegal, sofrendo perseguição policial e tendo a necessidade de se apresentar sem seu rosto — a foice, o martelo e a cor vermelha como o sangue –, mas jamais sem sua alma — seu programa, sua disciplina e sua sede revolucionária. Naturalmente, o Partido histórico da classe trabalhadora brasileira não se intimidava com a repressão, aperfeiçoava-se política e organizativamente e buscava estar presente nas mais diversas lutas no país, organizando os trabalhadores e as trabalhadoras e atuando, ainda que de modo clandestino, na construção da revolução brasileira.
O ano de 1954 foi ano de eleições parlamentares, e o PCB, com capilaridade e força política no Estado do Paraná, lançaria suas candidaturas. Com a legenda cassada e impossibilitado de lançar candidaturas sob sua própria insígnia, o Partido Comunista Brasileiro deliberava sobre os nomes de suas candidaturas e apresentava brevemente seu programa a alguns partidos legais que eram aliados táticos, os quais chancelavam as candidaturas comunistas por seu interesse de votos para a legenda. Mesmo saindo por outras legendas, as candidaturas do PCB eram centralizadas pelo Partidão e serviam aos interesses e deliberações do PCB. No Estado do Paraná, o PSB era o partido através do qual as candidaturas para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa.
Deste modo, em 1954, o Partido lança pela legenda do PSB os nomes de Felipe Chede e Miguel Pan na suplência, e Ubirajara Moreira e Estácio Gomes para a suplência, todos militantes do Partido Comunista Brasileiro, que foram escolhidos por seu compromisso partidário e consequência política, e mesmo depois destas eleições continuaram dedicando suas vidas à construção do PCB e da revolução brasileira. Sob a alcunha de ‘candidaturas populares’, as bandeiras e palavras de ordem das candidaturas eram:
- contra a carestia e pelo congelamento dos preços
- por aumento de salários
- contra os governos de Vargas e Bento
- contra o imperialismo americano
- pela paz e a emancipação nacional
- contra a falta de transportes
- pelo desenvolvimento industrial
- por relações econômicas e culturais com todos os países, particularmente com a União Soviética e a China Popular
- pela derrota dos reacionários e entreguistas
Foram colados e distribuídos, por todo o centro da cidade de Curitiba, panfletos e cartazes anunciando um comício em plena Praça Tiradentes — o marco zero da capital paranaense –, no dia 12 do mês de março de 1954. O comício marcaria o lançamento das candidaturas populares, no qual discursariam alguns elementos da velha política do PSB e, especialmente, diversos camaradas militantes e quadros do Partido Comunista Brasileiro no Paraná nas décadas de 50, 60 e 70, que ajudaram a organizar o Partido em mais de vinte cidades em nosso Estado, que fundariam mais de 100 sindicatos e que se manteriam firmes e resilientes na luta contra a ditadura burgo-militar. Eram eles, os discursantes do PCB, notadamente:
- Ubirajara Moreira, de nome de guerra “Catarina”, foi também candidato nas eleições de 1954. À época, Secretário da Liga de Emancipação Nacional, foi do Comitê Estadual do Partido por mais de uma década, militando até pelo menos 1975.
- Felipe Chede, candidato, compunha o Secretariado da célula de base do PCB em Ponta Grossa, e era Secretário da Liga de Emancipação Nacional na cidade.
- Miguel Pan, candidato à suplência de Felipe Chede, era presidente da União dos Ferroviários da R.V.P.S.C e militou no Partido até o início dos anos 70.
- Estácio Gomes de Oliveira, candidato à suplência de Ubirajara Moreira, era presidente regional da União dos Ferroviários da R.V.P.S.C.
- José Rodrigues Vieira Netto, advogado e professor da UFPR, foi eleito membro do Comitê Estadual do PCB em 1945, sendo um dos quadros intelectuais orgânicos mais respeitados no Estado. Foi Secretário Político do PCB no Estado do Paraná durante as décadas de 50 e 60, organizando as etapas estaduais do IV Congresso do PCB, e, nos anos que antecederam a ditadura, foi um dos maiores organizadores do PCB no interior do Estado; dirigiu as cidades de Apucarana, Maringá, Paranavaí, Ponta Grossa, Paranaguá, entre outras.
- Estanislau Cardoso, estivador em Paranaguá, organizava os trabalhadores do porto, foi Secretário Político da célula de Paranaguá.
- Manoel Jacinto, líder camponês, foi do Comitê Estadual do PCB pelo menos de 1953 até os fins de 1967. Ajudou a fundar mais de 25 sindicatos de trabalhadores rurais e associações de moradores do campo.
- Antônio Cardoso de Melo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil de Ponta Grossa, organizou a célula de base do PCB de 1947 a pelo menos 1960.
- Orlando Ceccon, editor e gráfico, foi responsável — junto de Jacob Schmidt, Aristides Vinholes e outros camaradas — pela tradução e difusão de literatura comunista no Estado do Paraná.
Dentre outras coisas, a história por trás destes cartazes que ilustram as candidaturas populares do Partido Comunista Brasileiro, quais suas bandeiras e qual sua força política, trata-se de uma demarcação. Um exemplo vivo de que a organização e a disciplina dos comunistas prevalecem mesmo em momentos de repressão, perseguição, boicote e censura. As ditaduras feriram brutalmente o PCB, sangraram-no e buscaram eliminá-lo. A ilegalidade buscou silenciá-lo, mas o Partido Comunista Brasileiro é imortal e é sempre jovem como o espírito de Lenin.
É justamente nos momentos mais sombrios que a chama do Poder Popular ilumina o breu, e estes cartazes são a prova de que o PCB nunca esteve morto. Mesmo na ilegalidade, construímos uma candidatura com força política e inserção sindical, com capilaridade nas bases, e o mais importante, sem abaixar nenhuma de nossas bandeiras. O PCB pode ter escondido seu rosto, mas jamais renegou sua alma. E nós, hoje, temos a tarefa histórica de construir com nossas próprias mãos o PCB que somos, de articular nossa classe e organizar nossas lutas, de edificar nossas candidaturas populares tal como fizeram os bravos e as bravas camaradas de quem herdamos a luta e o sangue.