Mulher e Revolução, Olga Lúcia Marín

somos de acá
3 min readApr 19, 2021

Texto traduzido do original ‘Mujer y Revolución’ publicado em 2011 no blog Frente Antonio Nariño de las FARC-EP.

É impossível falar de revolução sem falar da participação da mulher. A mulher esteve presente desde sempre pela liberdade, pela independência e pela justiça social.

Muitas, destacadas por sua valentia, não só pelo que fizeram, mas também pelo que fizeram quando suas ações enquanto mulheres estavam proibidas.

Para destacar sua presença em cada época, mencionemos algumas: A Índia Gaitana, com seu grito de mãe ferida, age contra o invasor que torturou seu filho e a seu povo. Manuela Beltrán, que acendeu a chama dos ‘comuneros’. Policarpa Salavarrieta e Antonia Santos, guerrilheiras do Exército Libertador. Maria Cano, organizadora da classe operária em todos os lugares da Colômbia. Georgina Ortiz, vítima durante os primeiros combates de Marquetalia. Myriam Narváez e Judith Grisales, que firmaram o Programa Agrário dos Guerrilheiros. Maria Eugenia Castañeda, nascida em Rio Chiquito e desaparecida pelo exército colombiano em 1985.

Como dizia Bolívar, “a mulher, ah, a mulher… nossos antepassados a consideram inferior ao homem. Nós a consideramos nossa igual.” A herança da rebeldia, ousadia e entrega à nobre luta pelos direitos dos povos, por sua libertação, está presente nas combatentes das FARC e do exército popular desde seus antecedentes históricos.

Pelo assassinato do caudilho liberal e dirigente popular, Jorge Eliecer Gaitán, em 9 de abril de 1948, a multidão liberal se revolta. A barbaridade conservadora, apoiada pelas bençãos de padres e de bispos, ataca os revoltosos.

Entre eles estavam as mulheres, que além de serem violadas, degoladas e queimadas, abriam seus ventres para que seus bebês também fossem mortos por baionetas. Mulheres que não hesitaram em combater junto de seus esposos, filhos e pais, para salvar a vida de todos. Mulher que suportou, ombro a ombro com eles, a fome, a dor, o desespero e a incerteza. Humilde, viva, lutadora e valente. Mulher que frente à necessidade de enfrentar essa barbárie que não parava e que pretendia acabar com tudo o que fosse sublevação, rebelião ou defesa da vida. Mulher que se organizou igual aos homens. No processo organizativo, a mulher também assume tarefas.

Sob o comando de Davis, um dos mais importantes assentamentos de guerrilheiros comunistas, ao sul de Tolima, os anos 1950 havia pelo menos 30 mulheres. A mulher participava da luta guerrilheira como forma superior de ação. A mulher passou à primeira linha de combate, à inteligência militar, aos explosivos, à instrução política, ao trabalho nos meios de comunicação e propaganda como locutoras, escritoras e diretoras. Enfim, a mulher assume todas as atividades da guerrilha. Na atualidade a participação da mulher na vida das FARC chega a aproximadamente 40%. Gozamos de espaços e condições de igualdade para lutar, aprender e se desenvolver, na teoria e prática.

Quando enfim deixar o anonimato e passar a ter reconhecidas as suas participações e importantes papéis, terá tido justiça histórica. Deixaremos de ser uma minoria, um objeto, e passaremos a ser parte substancial da humanidade. E na prática seguiremos nos desenvolvendo em direção às nossas necessidades de luta.

Por isso a importância do dia internacional da mulher e a necessidade de ampliá-lo. O 8 de março que propôs Clara Zetkin é um dia para divulgar frente ao mundo as discriminações pelas quais passa e passou a mulher. É um dia de luta pela construção de uma nova sociedade, na qual a mulher logre, enfim, o reconhecimento de seus direitos.

Nas FARC e no Exército Popular, nós mulheres nos sentimos realizadas em nossa condição de lutadoras revolucionárias. Temos logrado espaço como milhares de combatentes, operárias, camponesas, estudantes, profissionais e intelectuais; no caldeirão de raças que é a Colômbia, temos nosso lugar. O futuro da Colômbia e da Pátria Grande não pode ser o de ser o quintal dos gringos, com a miséria, indignidade e violência que isso significa.

Estes quarenta anos de luta das FARC e do Exército Popular, nós as mulheres temos logrado progressos fundamentais na participação e igualdade. Homens e mulheres comprometem-se com as determinações dos organismos de direção e cada um contribui com o que sabe, pode e deve fazer. Ombro a ombro com nossos camaradas, seguimos na luta pela segunda e definitiva independência e pelos direitos específicos das mulheres. Conscientes de que isto só é possível agora nas FARC e no Exército Popular e na nova sociedade que construiremos com o triunfo da revolução.

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