Mensagem ao povo peruano, Nestor Cartolini
El 19 de Abril 1990 a las 22.00 horas Panamericana Televisión, en el Programa Noticiero “24 horas”, transmitió a nivel nacional el siguiente mensaje, redactado por Néstor Cerpa Cartolini a nombre de la Dirección Nacional del MRTA.
Povo peruano:
Esta oportunidade de nos dirigir a vocês é, para nós, um presente, é uma conquista porque é parte dos tratados para libertar o senhor Héctor Delgado Parker¹.
O povo não tem liberdade de opinar: aos revolucionários nos nega a possibilidade de acessar aos meios de comunicação porque temem que nós vamos denunciar o verdadeiro caráter da guerra que vive nossa Pátria. Os ricos dizem que a violência é responsabilidade das organizações revolucionárias. Nada mais falso. Nosso povo vive séculos de violência permanente por parte dos exploradores; porque é violência se mais de 150 de cada mil crianças morram antes de completar um ano, é violência que morram de enfermidades perfeitamente curáveis, que centenas de milhares de crianças cresçam com desnutrição crônica, que a maioria do povo viva na mais absoluta miséria enquanto se encham os baús do imperialismo e dos monopólios amparados pelos fuzis do Estado. Quando os trabalhadores, os camponeses e moradores reivindicam coisas mínimas, lhes respondem bom balas, cacetetes, bombas de gás lacrimogênio… os encarcera ou assassina. E todos estes crimes são realizados impunemente e aos autores lhes põe o título de “heróis defensores do estado de Direito”. Estes fatos têm sido realizados tanto pelos governos militares como pelos chamados governos “democráticos”.
Nós, como parte deste povo, sofremos essas agressões. Assim fomos forjados, assim aprendemos a lutar. Compreendemos que se não eram capazes de ceder pacificamente às mínimas reivindicações, menos ainda iriam ceder seus privilégios e poderes políticos ao povo. Nós compreendemos que se amávamos a justiça e a liberdade teríamos que conquistá-las. Para isso teríamos que opor a violência revolucionária dos opressores com a violência revolucionária do povo organizado. Ontem éramos um punhado de gente armada apenas com nossa integridade e nossa moral; hoje somos milhares organizados em frentes guerrilheiras, comunidades milicianas e de autodefesa estendidas ao longo de todo o país. Mas o mais importante é que nossa influência cresce a cada dia e o povo se soma à luta, e até no campo com a fusão das armas e das massas, se vê gestando o embrião do futuro, do poder popular.
Temos um caminho claro e definido, queremos uma sociedade justa, queremos que os peruanos vivam dignamente. Queremos que nossa pátria seja livre e se desenvolva, queremos uma pátria socialista enraizada profundamente com as raízes históricas de nosso povo e das massas organizadas.
Lamentavelmente há também aqueles que desprestigiam a luta armada revolucionária: são os do Sendero Luminoso. Eles pretendem impor-se autoritariamente ao povo assassinando dirigentes populares, destruindo suas organizações, se autoproclamando donos absolutos da verdade e utilizando métodos e concepções que estão muito distantes dos revolucionários, porque esses são feitos que maculam nossa imagem e que fazem um grande favor ao inimigo para tergiversar nossos objetivos.
SOBRE O TRATADO DE GENEBRA
As classes dominantes têm respondido à luta armada revolucionária com uma brutal guerra suja; com povos arrasados, com milhares de inocentes assassinados, torturados, desaparecidos por qualquer leve suspeita, pelo simples fato de serem pobre e reivindicar algo. No entanto, o MRTA defende o humanismo mesmo em meio à guerra; por isso é que hoje reiteramos nossa exigência dirigindo-se principalmente à igreja para que cumpra seu papel e exija às partes em conflito o respeito irrestrito ao tratado de Genebra sobre guerras internas. Porque não haverá paz enquanto não haja justiça.
Jamais aceitaremos a paz dos cemitérios, a paz de submissão e vassalagem. Povo peruano: concluiu-se um novo processo eleitoral em seu primeiro turno. Vimos como os mesmos que nos oprimem hoje se fingem e se apresentam como defensores do povo. Os grandes empresários e seus lacaios agrupados no Fredemo gastaram milhões de dólares em propaganda para apresentar-se como a única saída viável, quando na verdade o que representam é um programa de choque e de medidas reacionárias que intensificariam a miséria da grande maioria. Por outro lado, o APRA pretendia capitalizar o medo popular da Fredemo utilizando indiscriminadamente o dinheiro público e o aparato do Estado em propaganda partidária, apresentando-se como os principais defensores do povo depois da miséria à qual nos levaram. Essa tem sido a essência dessas eleições burguesas: o uso indiscriminado do poder econômico e do aparato do Estado para seguir enganando ao povo. Isso explica porque, a nível parlamentar entrou uma quantidade alta de representantes destes grupos econômicos que, nos próximos anos, recuperarão com juros o investimento realizado mediante favores de poder.
Ainda assim, constatamos que um setor importante do povo utilizou estas eleições também para protestar através de seu voto. Este sentimento do voto nulo ou em branco; também notou-se o protesto no apoio que se deu a alguns candidatos populares que integravam as listas parlamentares da Esquerda Unida.
Mas este descontentamento também encontrou um meio de expressão no senhor Fujimori: um personagem sem antecedentes políticos, sem ter um discurso definido, mas aparecendo à margem da politicagem criolla. A conclusão é que um bom setor de nosso povo soube distinguir os seus principais inimigos agrupados no Fredemo e rejeitar o continuísmo aprista.
Os companheiros da Esquerda Unida também devem aprender algo com esta lição. Nos últimos anos optaram por uma política de conciliação, caíram em uma e outra armadilha que lhes foi feita pelas classes dominantes que alentaram as ambições pessoais do senhor Barrantes e seus lacaios, para logo dividi-los e finalmente marginalizá-los perante os meios de comunicação. Essas são as armadilhas que lhes mostramos e que fazem inviável o caminho pacifista, mas o que é pior, a Esquerda Unida foi fazendo uma prática politiqueira criolla e o povo os viu distanciar-se cada vez mais de suas lutas e por isso os castigou também eleitoralmente. Se a Esquerda Unida quer cumprir um papel transcendental na luta popular deve deixar a política de conciliação, deve buscar caminhos de unidade e luta para defender os interesses do povo e da revolução.
A direita se desespera em afirmar que estes comícios derrotaram a luta armada revolucionária. Nada mais falso: nós não lutamos contra um governo ou outro; nós lutamos contra o sistema capitalista de exploração e as eleições só muda aqueles que administram este Estado protetor desta exploração. Entendemos, sim, que o Sendero Luminoso sofreu uma dura derrota com sua política de boicote que não leva em conta o estado de ânimo das massas e pretendeu se impor pela força.
MRTA luta por uma verdadeira democracia baseada no povo organizado, onde pode designar seus representantes baseado na trajetória de seus atos, onde existam mecanismos de controle popular que possam combater a tendência à burocratização. Esta é nossa democracia socialista e só será possível quando as fontes de riqueza estejam nas mãos do povo.
Agora se inicia a corrida eleitoral para eleger um presidente no segundo turno, entre o senhor Mario Vargas Llosa e o senhor Fujimori. Evidente o senhor Vargas Llosa é o inimigo declarado do povo, mas as propostas do senhor Fujimori tampouco vão mudar a situação de fome e miséria que são problemas estruturais.
Por isso o MRTA considera que nestas eleições o povo deve rechaçar o sistema capitalista de exploração com um voto de protesto: um voto nulo². Mas além das eleições o povo tem somente um caminho: o da luta.
AUTODEFESA DE MASSAS E PODER POPULAR
É sumariamente necessário fortalecer as organizações e agremiações, as frentes de defesa, a Assembleia Nacional Popular que deve deixar de lado sua passividade. Devemos responder à agressão com a força e o poder. É importante forjar a autodefesa de massas e o poder popular para enfrentar a agressão das forças armadas de seus bandoleiros paramilitares.
VIGÊNCIA DO SOCIALISMO
Ratificamos que nossa luta é pelo poder para o povo e pelo socialismo como única alternativa. Engana-se o imperialismo e a direita quando consideram que o que aconteceu no Leste Europeu é o fracasso histórico do socialismo. Nada mais falso: o que ali aconteceu é o fracasso um modelo de construção do socialismo.
No Peru e na América o capitalismo e a democracia burguesa somente trouxeram mais fome e miséria, e isso conhecemos muito bem. Falar de mudança é falar de revolução e de socialismo.
Com as massas e com as armas, Pátria ou morte, venceremos!