Definindo o Trotskismo, Moissaye Olgin

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6 min readSep 17, 2021

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O trecho traduzido foi extraído da obra “Trotskyism: Counter-revolution in disguise” ou “Trotskismo: Contrarrevolução disfarçada”, cap. 3, “trotskyism defined”, publicada em 1935 por Moissaye Joseph Olgin.

O QUE é o Trotskismo?

Há mais de dez anos, quando Trotsky ainda gozava do privilégio de ser membro do Partido Comunista da União Soviética, Stalin identificou no Trotskismo “três peculiaridades que o colocam como contradição inconciliável ao leninismo”.

Antes de iniciarmos, precisamos falar um pouco sobre o método aplicado aqui para discutirmos o Trotskismo. A questão é tratada do ponto de vista Marxista-Leninista. Assumimos que o Leninismo provou-se correto como teoria e prática revolucionárias. Portanto, estamos convencidos que a oposição ao Leninismo está incorreta.

Bem, estamos cientes do fato de que muitos leitores possam discordar com o ponto de vista leninista. Eles podem se opor à revolução proletária, à ditadura do proletariado, ao sistema socialista. Tais leitores podem encontrar consolo nos atraques de Trotsky ao Leninismo. Mas então estes leitores devem admitir que buscam em Trotsky não uma confirmação, mas uma repulsa da solução Leninista dos problemas sociais. Para um leitor assim, que extrai do lodo das denúncias de Trotsky argumentos convenientes contra a União Soviética e contra os comunistas de seu país, não temos argumento algum nestas páginas. A única coisa que uma pessoa desta estirpe precisa fazer é reconhecer que ela usa a munição de Trotsky contra tudo aquilo que Marx, Engels e Lenin representaram e contra tudo aquilo que Stalin e a Internacional Comunista representam hoje.

Muito diferentes são aqueles que se declaram a favor da revolução proletária, que admitem a necessidade de organizar a classe trabalhadora para a luta pela superação do capitalismo e pelo estabelecimento de um poder Soviético, e que reconhecem em Lenin o mestre-artesão do Partido Bolchevique e o líder mundial histórico da revolução proletária. O argumento a seguir busca mostrar que não se pode ser a favor da revolução proletária e a favor do Trotskismo; que quem aceita os argumentos de Trotsky, se afasta de Lenin; que as profecias de Trotsky sobre o Leninismo são apenas uma cortina de fumaça atrás da qual se escondem sua desconfiança no Partido Comunista (Bolchevique) e seus métodos de luta; que o Trotskismo na verdade é uma arma contra a revolução proletária, uma arma pintada de vermelho para enganar os trabalhadores com uma tendência radical.

Podemos supor que aqueles que levam a sério a superação do capitalismo e o estabelecimento — nos princípios postulados pela Revolução Russa — da ditadura do proletariado nos países atualmente capitalistas, incluindo os Estados Unidos, concordam com as seguintes proposições fundamentais:

a) Que um Partido Comunista (bolchevique) é o primeiro pré-requisito para uma revolução bem-sucedida.

b) Que pode haver apenas um Partido Bolchevique e não vários em cada país, e que a unidade de tal partido, sua coesão e seu poder de ataque são de vital importância;

c) Que a espinha-dorsal da revolução socialista é o proletariado urbano;

d) Que o Partido Comunista pode alcançar a revolução proletária quando liderar toda a classe trabalhadora, ou pelo menos sua maioria, em uma insurreição armada contra o Estado capitalista;

e) Que o sucesso da revolução depende, em larga escala, da habilidade do Partido e do proletariado de aliarem-se com as massas exploradas e oprimidas de outros grupos e classes da população, em primeiro lugar os camponeses explorados, as classes baixas das cidades, os intelectuais oprimidos, etc.;

f) Que a confiança entre a liderança do Partido e a militância do Partido é uma das condições principais para o sucesso; e a falta de confiança na direção Bolchevique, quando infundada, acaba por minar a revolução;

g) Que pode haver somente uma Internacional Comunista que dirige os Partidos Comunistas do mundo;

h) Que alguém não pode ser verdadeiramente um revolucionário e lutar contra a União Soviética, pois a União Soviética é a maior conquista dos proletariados do mundo e um exemplo de construção do Socialismo.

Mas retornemos à definição de Stalin. É preciso lembrar que Stalin elaborou-a na época em que o Trotskismo estava apenas começando a sublevar-se. O tratado “Trotskismo ou Leninismo”, no qual está contida a definição, foi publicado em novembro de 1924. É impressionante a clareza com que Stalin enxergou tanto o significado quanto o futuro desenvolvimento do Trotskismo em uma época em que Trotsky ainda era visto como um dos grandes heróis da revolução.

As “peculiaridades” do Trotskismo, de acordo com Stalin, são:

Em primeiro lugar, o Trotskismo é a teoria da assim chamada “revolução permanente”, o que é outro nome para o postulado de que é impossível construir o socialismo na União Soviética.

Em segundo lugar, o Trotskismo significa a falta de confiança no Partido Bolchevique, em sua unidade, em sua hostilidade perante elementos oportunistas, o que leva à teoria da “coexistência de revolucionários e oportunistas, de seus grupos e frações dentro do seio de um único partido”.

Em terceiro lugar, o Trotskismo significa a desconfiança na liderança Bolchevique, uma tentativa de desacreditá-la, manchá-la. Com um entendimento profético, Stalin aponta os perigos do Trotskismo.

“Onde está o perigo do novo Trotskismo? De acordo com todo o seu conteúdo interno, o Trotskismo tem todas as chances de se tornar o centro e o ponto de convergência de elementos não-proletários que tentarão enfraquecer e desintegrar a ditadura do proletariado.

O Trotskismo agora avança para destronar o Bolchevismo, para minar suas fundações.” (A Revolução de Outubro, p. 94)

Redefinindo o Trotskismo seis anos depois, em junho de 1930, Stalin teve apenas de elaborar sobre as “peculiaridades” acima mencionadas. As atividades dos Trotskistas encaixaram-se bem na caracterização original de Stalin. O que ele previu em 1924 como uma possibilidade e uma tendência, tornou-se uma prática estabelecida.

“Qual a essência do Trotskismo?” Stalin pergunta em 1930, e encontra a resposta consistindo no seguinte:

“A essência do Trotskismo consiste, antes de tudo, na negação da possibilidade da construção do Socialismo na URSS, com as forças da classe trabalhadora e do campesinato de nosso país. O que isso significa? Significa que se, no futuro próximo, não obtivermos ajuda na forma de uma vitoriosa revolução mundial, nós deveremos capitular diante da burguesia e abrir caminho para uma república democrático-burguesa. Consequentemente, temos aqui a postura do repúdio burguês à possibilidade da construção do Socialismo em nosso país mascarada por uma fraseologia ‘revolucionária’ sobre a vitória da revolução mundial.

A essência do Trotskismo consiste, em segundo lugar, na negação da possibilidade de atrair as massas camponesas para a construção Socialista no campo. O que isso significa? Significa que a classe trabalhadora não é forte o suficiente para liderar o campesinato na tarefa de transformar fazendas individuais em fazendas coletivas, e significa que se num futuro próximo a vitória da revolução mundial não vier em socorro da classe trabalhadora, o campesinato vai restaurar o velho sistema burguês. Consequentemente, nós temos aqui a negação burguesa da força e das oportunidades que a ditadura do proletariado tem para liderar o campesinato em direção ao Socialismo, coberta com a máscara da fraseologia ‘revolucionária’ sobre a vitória da revolução mundial.

A essência do Trotskismo consiste, em última instância, na negação da necessidade da disciplina de ferro do Partido, no reconhecimento da liberdade de fracionamento do Partido, no reconhecimento da necessidade de se constituir um partido Trotskista. Para o trotskismo, o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) não deve ser um Partido só, com unidade, mas sim um agrupamento de facções e frações, cada uma com sua organização central, imprensa, etc. E o que isto significa? Significa que após a liberdade de constituição de grupos políticos no Partido virá necessariamente a liberdade de constituição de partidos políticos no país, ou seja, a democracia burguesa. Consequentemente, aqui temos o reconhecimento da liberdade das facções no Partido, levando diretamente à tolerância da existência de partidos políticos no país da ditadura do proletariado, tudo isto mascarado com fraseologias sobre ‘democracia interna do Partido’ e ‘aperfeiçoamento do regime’ dentro do Partido” (Joseph Stalin, Leninism, Vol. II, pp. 391–393).

A negação da possibilidade da construção do Socialismo na URSS pode apenas desencorajar os trabalhadores Soviéticos, destruir sua confiança, diluir seu entusiasmo. A negação da possibilidade da construção do Socialismo no campo pode apenas desencorajar os camponeses pobres e médios, enfraquecer sua força contra os kulaks, minar sua confiança no proletariado urbano e no seu Partido como líderes da revolução e construtores do Socialismo. A negação da necessidade da disciplina de ferro no Partido pode apenas encorajar desvios de disciplina e, portanto, enfraquecer a mais forte arma da ditadura do proletariado. É por este motivo que Stalin classificou, em 1930, o Trotskismo como um “grupo anti-proletário, anti-soviético e contrarrevolucionário, que instintivamente informa a burguesia sobre os assuntos de nosso Partido”. (Ibid., p. 391)

Hoje o Trotskismo não mais se confina a “informar” a burguesia. Atualmente o Trotskismo é o centro e ponto de convergência dos inimigos da União Soviética, da revolução proletária nos países capitalistas e da Internacional Comunista. O trotskismo está tentando não somente desintegrar a ditadura do proletariado na União Soviética, mas também desintegrar as forças que constroem a ditadura do proletariado no mundo.

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