Como liquidar o desnível entre a influência crescente do partido e o seu insuficiente crescimento orgânico, Victorio Codovilla

somos de acá
13 min readNov 30, 2021

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Existem as condições favoráveis para liquidar rapidamente nosso atraso e conseguir que nosso partido dê um salto à frente? Não resta dúvida que existem.

A classe operária e o povo argentino se dão conta da gravidade da situação internacional e nacional, e as vezes tateando, buscam por um orientador, um guia, capaz de dirigir acertadamente as lutas por suas reivindicações econômico-sociais imediatas, e pela defesa da liberdade e independência da pátria e pela paz.

Efeito disso; entre as massas influenciadas pelo peronismo incide mais e mais a desconfiança de seus dirigentes, a consequência do curso reacionário, antinacional, de sua política interna e externa, e entre os filiados dos partidos de oposição — assim como seus simpatizantes — aumenta a desorientação frente à política estreita e frente à falta de perspectiva de saída da situação por parte da maioria de seus dirigentes, quem, aliás, se dão a lutas internas que paralisam a ação de seus partidos.

O único partido que tem um verdadeiro programa nacional, que dá uma perspectiva clara de saída democrática e progressista da situação reacionária atual, é o nosso. Por isso cresce e crescerá cada dia mais sua influência entre a classe operária e o povo.

Efeito disso; todos os camaradas que estão em estreito contato com a classe operária e com as massas populares afirmam, com satisfação justificada, uma coisa é certa: a influência do partido se estende constantemente.

Mas a comprovação deste fato não deveria ser mais um motivo de profunda preocupação por nossa insuficiente capacidade para cristalizar essa crescente influência na organização?

Se não se procede assim, a influência comunista sempre será uma influência difusa, que se estenderá ou restringirá seguindo os fluxos e refluxos da situação nacional e internacional, e o partido desempenhará somente um papel agitador, propagandístico, e não um papel diretor, de dirigente das massas, a única forma de poder realizar com êxito as diversas e complicadas tarefas que a situação nacional e internacional constantemente se agrava.

Em todas as reuniões que aconteceram desde o XI Congresso, comprovamos a afirmação de que os acontecimentos vinham demonstrando que a linha política e tática estabelecidas se verificavam como justas, como a única justa; e recentemente, por conta dos acontecimentos da Coreia e das lutas operárias por suas reivindicações econômico-sociais, se demonstrou — particularmente na ação de massas de Rosario e na greve de ferroviários — que nossas ideias percorrem as massas, e que ali onde existe um mínimo de organização partidária, as massas lutam lado a lado com os comunistas por sua realização.

Por que, então, não cresce a organização do partido? Por que, em alguns casos — e isso é muito grave para um partido proletário — não se consolidam e desenvolvem as organizações partidárias existentes nas fábricas e empresas? Por que não se obtém êxitos apreciáveis na extensão da organização partidária nos locais de trabalho das cidades e nos centros agrícolas? Quais são as causas que determinam uma tal situação?

Estas perguntas, se não são formuladas abertamente por todos os militantes, muitos deles as têm na ponta da língua. E com razão.

A imensa maioria de nossos militantes demonstram um grande fervor partidário e não poupam esforços nem sacrifícios para conseguir êxitos na execução das tarefas partidárias. Contudo, se comprova que a proporção em relação aos outros militantes é muito baixa.

Os camaradas aqui reunidos, que tem maior responsabilidade em diversos organismos do partido, devem, portanto, fazer um exame de como é aplicada, individual e coletivamente, a linha política, e se a atividade realizada é própria ou não para promover um rápido crescimento do partido, e deste modo estar em condições de poder dar respostas acertadas e convincentes àquelas perguntas.

Não cabe dúvida de que há de ser assim, se examinarmos a atividade partidária, e os êxitos e os fracassos que experimentamos nos últimos tempos, através de uma crítica e autocrítica séria e profunda, deixando de lado ressentimentos pessoais, explosões de sentimentalismo revolucionário ou “mea culpa”, que em nada ajudam a descobrir as causas de nossos erros e de nossas debilidades políticas, e a comprovar se nossos métodos de trabalho são ou não acertados.

Para isso é preciso acabar com o costume arraigado em alguns companheiros, que depois de cada reunião do Comitê Central ou do Comitê Executivo ou do Secretariado do Partido, afirmam que finalmente compreenderam a fundo como devem aplicar a linha política e tática partidária, que agora todos os problemas lhes são caros, que estão em condições de produzir a grande virada na atividade do partido, mas que logo fazem tal virada a ponto de voltarem ao ponto de partida.

Estamos, portanto, na obrigação de ajudar nossos militantes a descobrirem as causas que obstaculizam o crescimento do partido e a indicar-lhes como devem proceder para as eliminar, com a finalidade de conseguir que a crescente influência do partido entre as massas — peronistas e não peronistas — possa se cristalizar em organização.

Se não procedermos assim, esta reunião será apenas mais uma, de utilidade indiscutível enquanto nos permitir um intercâmbio de experiências, mas que não armará o partido para que esteja em condições de realizar as mudanças indispensáveis para liquidar o desnível existente entre a influência e a organização, de modo que em uma próxima reunião, ao invés de pautarmos de novo a pergunta de “por que o partido não cresce no mesmo ritmo que estende sua influência?”, possamos informar sobre “como o partido crescer e pode crescer mais ainda em relação ao tamanho de sua influência”.

Liquidar as tendências sectárias com a finalidade de que o partido possa reforçar-se e dar um grande impulso ao movimento de massas

Permitam-me, agora, que analise alguns fatos que demonstram como se manifestam as tendências sectárias em nossa atividade no movimento operário e nos diversos movimentos de massas, com a finalidade de que possamos descobrir suas raízes e extirpá-las, porque até agora estas manifestações de sectarismo foram prejudiciais para a extensão da influência e organização do partido entre a classe operária e as massas trabalhadoras, na realidade temos chegado a um ponto em que qualquer manifestação de sectarismo pode estragar a realização da tarefa fundamental, que é estabelecer a unidade de ação da classe operária e do povo argentino, única garantia de que poderão conseguir seus objetivos econômico-sociais e políticos imediatos. Mas para isso é preciso, tal como ensina o camarada Kalinin, proceder de tal modo “que as massas sintam a cada passo que o Partido Comunista não tem interesses próprios, especiais; que o que defende são os interesses do proletariado, de todo o povo em seu conjunto”.

Para conseguir que seja assim, a única forma de poder realizar com êxito nossas tarefas, faz falta — como já afirmei em minha carta aos camaradas de Santa Fé — liquidar as tendências sectárias que afloram continuamente nos diversos ramos da atividade partidária. Isto é necessário com a finalidade de conseguir ampla unidade de ação da classe operária, das massas camponesas e de toda a população trabalhadora na luta por suas reivindicações econômico-sociais, grandes e pequenas, é possível dar uma saída democrática e progressista à grave situação atual.

Agora, bem, quais são as fontes do sectarismo? São várias e de índoles diferentes.

Há aqueles que pensam que o sectarismo é algo congênito de tal ou qual camarada, e que eliminando-o da direção de um organismo partidário ou deste ou daquele posto de responsabilidade no trabalho de massa o sectarismo seria extirpado.

Indiscutivelmente, existem camaradas sectários, diríamos assim, por temperamento, que travam a atividade do partido. Mas essa é somente uma manifestação secundária a do sectarismo. As fontes do sectarismo são outras. Uma delas é a falta ou insuficiência de ligação com a classe operária e as massas trabalhadoras, o desconhecimento da vida real delas, o que leva à presunção de crer que os elementos de vanguarda são os únicos que estão em condições de pautar e resolver acertadamente os problemas que interessam às massas, pois dizem o que pensam e as massas ainda não os entendem.

Isso traz como consequência que, al não ter suficiente contato com elas, não se capta em cada momento quais são suas necessidades e suas aspirações, para, deste modo, poder ajudá-las a pautar acertadamente suas reivindicações econômicas, sociais, culturais e políticas, e a encontrar as melhores formas de organização para lutar por sua obtenção.

Efeito disso; existem camaradas que, frente à insuficiente compreensão da linha política e tática estabelecida no XI Congresso, ou frente às manifestações de desacordo sobre este ou aquele ponto de nossa plataforma de luta pelas reivindicações econômico-sociais por parte deste ou daquele setor da classe operária ou do povo — em particular por parte de setores influenciados pelos peronistas –, ao invés de explicar-lhes pacientemente quais são nossos propósitos e convencê-los da justeza de nossa posição, se isolaram ou ainda se isolam deles, e, partindo do ponto de vista geral de nossa posição é justa, afirmam que, ao fim, se convencerão disto e solicitarão nossa orientação e direção. Quer dizer, no lugar de pautar-se o problema de que seja Maomé a ir até a montanha, esperam que a montanha vá até Maomé.

Designar tarefas de acordo com a possibilidade e capacidade de cada um

Este problema está ligado ao problema da capacidade e acerto com que nossos camaradas dirigentes atuais, de cima a baixo, saibam distribuir o trabalho entre nossos militantes, tanto no que concerne a realização das tarefas gerais do partido como no que concerne às tarefas a realizar nos movimentos de massas.

Estudar minuciosamente a capacidade e a aptidão de cada membro do partido, com a finalidade de conseguir que realize um trabalho que esteja em condições de realizar, é uma das condições essenciais para obter o máximo rendimento de cada camarada, posto que cada um realizará a tarefa designada conforme puder.

Para isto há que enterrar no partido o conceito de que existem filiados “ativos” e “passivos”, e que a organização partidária deve estabelecer seu plano de trabalho levando em conta exclusivamente os filiados ativos. Indiscutivelmente, há filiados ativos dedicados por inteiro à atividade partidária, e nossa aspiração é que todos cheguem a sê-lo. Mas enquanto isso é preciso conseguir que cada um dos filiados faça algo pelo partido.

Por exemplo, se em um bairro existem 100 filiados, dos quais 20 são considerados ativos e 80 “passivos”; e os 20 ativos rendem, em trabalho partidário, como rendem 10 passivos, há um total de 200. Se conseguirmos que os 80 restantes rendam em média, 3, teremos um total de 240, somando ambas as médias teríamos 440, ou seja, mais do que o dobro do rendimento da atividade baseada exclusivamente nos 20 filiados considerados ativos.

Isso permitirá liquidar, também, certos restos de autosuficiência existentes em alguns camaradas ativos a respeito dos não ativos, e em suas relações com os sem partido ou com os pertencentes a outros partidos.

O problema reside, então — repito –, em saber encontrar um trabalho adequado para cada filiado.

Isto é muito importante. Por quê? Porque quando o filiado considerado como “passivo” realiza alguma atividade, por menor que seja, e obtém êxito, no transcurso da mesma vê mais claramente as possibilidades de sua ampliação, aumenta a fé em sua capacidade realizadora e passa, inconscientemente, de filiado “passivo” a filiado ativo.

Por outro lado, é preciso saber valorizar mais os camaradas que são queridos pelos operários e pelos trabalhadores em geral em seu local de trabalho e moradia, que intervém com êxito nas assembleias operárias ou reuniões de vizinhos porque sabem expor de modo sensível e convincente o que as massas sentem e o que as massas querem, mas que — as vezes — não são organizadores.

Em primeiro lugar, é preciso verificar se isso está correto; e em segundo lugar, se estiver, há que reconhecer-lhes sua condição de agitadores e mobilizadores de massas, e prestar-lhes a ajuda necessária com a finalidade de que o que eles semeiam possam ser colhidas por quem tem aptidões ou experiências de organização, através de comitês de luta e da conquista de novos filiados, para reforçar a organização já existente do partido, ou para cria-la onde ainda não exista.

As palavras de ordem devem ser elaboradas levando em conta as reivindicações mais necessárias das massas

Permitam-me, agora, chamar sua atenção a respeito da questão das palavras de ordem. Por quê? Porque o êxito das lutas por reivindicações operárias e populares dependem do fato das palavras de ordem serem ou não acertadas.

Em geral, a direção do partido cria palavras de ordem relacionadas com problemas de caráter nacional e internacional que se mostram acertadas; mas isso não é suficiente. Para que essas palavras de ordem possam fixar nas massas é preciso tomar como base a palavra de ordem nacional para elaborar palavras provinciais, locais, em locais de trabalho, moradia, etc., que contemplem a situação e reflitam as reivindicações mais necessárias dos operários e da classe trabalhadora destes lugares. Mas isso é possível se antes de elaborarmos as palavras, escutarmos atentamente a opinião dos operários, empregados, camponeses, pequenos industriais, pequenos comerciantes, profissionais, donas de casa, etc., e, na medida do possível, formular as palavras de ordem com sua participação direta.

Além disso, é preciso que ao propagar as palavras de ordem, salientemos as reivindicações mais urgentes da classe operária e das massas trabalhadoras em um momento determinado.

Por exemplo, quais são as palavras de ordem mais necessárias atualmente?

A luta contra a carestia, em três aspectos: alimentação, vestimenta e moradia. Mas dentro deles, nos grandes centros urbanos, a questão que mais preocupa as massas trabalhadoras é de moradia e transporte. Ao lançar palavras de ordem para a luta contra a carestia, é preciso, portanto, salientar essa questão.

A luta por aumentos de salários, e pelo fim das represálias patronais e estatais, é uma palavra de ordem que interessa a todos os operários e empregados. Contudo, há várias categorias de operários e empregados cujos aumentos tem sido postergados de forma sistemática, e quando os recebem, são insuficientes para fazer frente ao constante aumento do custo de vida. É o caso dos operários do transporte, dos frigoríficos, metalúrgicos, têxteis, funcionários públicos, etc.

Ao pautar a questão do aumento de salários para todos os operários e empregados, é preciso dedicar uma atenção especial às categorias cujas reivindicações são postergadas e onde se sabe que o descontentamento latente está próximo do estalar.

A luta pelo aumento das pensões e aposentadorias, pela supressão dos descontos a operários e empregados, é uma palavra de ordem que sempre interessa a todos eles, mas no momento atual é preciso salientar outra questão: a luta para elevar a quantia de pensões e aposentadorias já estabelecidas, com a finalidade de que os pensionados possam ter o necessário para viver decentemente, pois a desvalorização da moeda (inflação) e o aumento do custo de vida os reduziram a condições de semi indigência.

A luta contra o aumento dos impostos sobre os pequenos comerciantes e industriais e profissionais é uma palavra de ordem que interessa a todos estes setores, mas dentro deles existem categorias que são mais afetadas que outras pelos impostos. A estas categorias é preciso dar preferência e atenção, e ajudar-lhes a organizar a luta por suas reivindicações, porque em muitos casos contribuem ao triunfo das lutas operárias proporcionando alimento durante as greves.

A luta contra o latifúndio e pela entrega da terra aos camponeses, ligada às demais reivindicações compreendidas em nosso programa agrário, é uma pauta que interessa sempre aos camponeses, mas no momento atual, ao mesmo tempo que lhes interessa obter remunerações pela venda das colheitas — pois os preços que o governo lhes fixou para os cereais não cobrem nem os gastos de produção — lhes interessa o preço do transporte, do maquinário agrícola, etc., ou seja, lhes interessa o fim do engano que representa o recebimento de alguns pesos a mais pelo trigo e pelo milho e logo ter que pagar um aumento duplo ou triplo pelo transporte ou pelo maquinário. Neste caso, devemos salientar esta e outras reivindicações que são mais sentidas atualmente pelos camponeses.

A luta pelos aumentos de salários dos operários agrícolas interessa a todos eles, mas há épocas — por exemplo, o período entressafras — em que é preciso salientar as reivindicações que se relacionam com sua necessidade de conseguir trabalho ou meios de vida por parte dos empregadores e das autoridades locais, provinciais e nacionais. Quer dizer, palavras de ordem relacionadas com a luta para conseguir que se realizem trabalhos de melhoramento dos campos, de construção de vias, realização de obras públicas, etc.

Por outro lado, tanto as reivindicações dos camponeses como as dos pequenos comerciantes e industriais — redução de impostos, crédito abundante e barato, não-aumento do preço dos arrendamentos, eletricidade, transporte, etc. –, se são comuns a todos eles, variam de província a província, de zona a zona e de local a local. Também é preciso levar isso em conta.

Em uma palavra, é preciso levar em conta os ensinamentos do leninismo e saber em cada momento, agarrar o elo do qual se pode puxar toda a corrente.

Para impulsionar o movimento de massar é preciso diminuir a distância entre filiados e não filiados ao partido

É claro que a forma de liquidar as tendências sectárias existentes no seio do partido é a de preocupar-se constantemente em elevar o nível político e teórico dos militantes do Partido, e acostumá-los a trabalhar sobre planejamentos não impostos de cima, mas estabelecidos na base, em reuniões em que participem se não todos, pelo menos o maior número possível de companheiros, de modo que ao estabelecer o plano se contemplem as possibilidades efetivas para sua realização.

Mas, por outro lado, estas tendências sectárias serão liquidadas tão mais rápido se conseguimos reforçar organicamente o partido, incorporando a seu seio novos militantes de classes operárias e populares. Para isto é preciso que toda nossa atividade seja dirigida no sentido de diminuir a distância entre filiados e não filiados ao partido. É preciso — como já se repetiu muitas vezes — fazer penetrar a fundo na classe operária e no povo a ideia de que o Partido Comunista é o seu partido, e não só o partido dos que militam nele atualmente.

Como conseguir isso nas condições argentinas? Atuando de tal modo que os que buscam a orientação e a direção de nosso partido encontrem o calor e a ajuda fraterna por parte de nossos militantes. Conseguindo que todos, ou pelo menos grande parte dos militantes e simpatizantes do peronismo e da oposição sistemática, conheçam nosso programa de saída democrática e progressista da situação atual, e nossa plataforma de luta pelas reivindicações imediatas da classe operária e do povo. Demonstrando na prática que trabalhamos com a perspectiva de chegar a estabelecer a unidade de ação das amplas massas e, sobre a base da organização da luta por suas reivindicações imediatas, chegar à criação de uma poderosa Frente Democrática Anti-oligárquica, anti-imperialista e pró paz, com vistas a salvar o país da catástrofe econômica e da decomposição política, dar uma saída nacional, democrática e progressista à situação reacionária atual e, através de um governo democrático e popular, conseguir a libertação nacional e social de nosso povo.

Que por isso os operários e os elementos mais combativos e conscientes da massa trabalhadora devem participar, junto com os comunistas, na realização desta patriótica tarefa de honra. E se no transcurso da luta se convencem da justeza, da linha política e tática do partido, devem assumir a responsabilidade de militantes e contribuir com seu esforço e com sua capacidade de fortalecer e desenvolver seu partido: o Partido Comunista.

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