Paranaenses na luta contra a ditadura militarista (1964)

somos de acá
3 min readApr 2, 2023

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Manifesto encontrado nas ruas da cidade de Curitiba em 03 de novembro de 1964, extraído do Arquivo Público do Estado do Paraná, disponível em BR PRAPPR.PB004.PT1306.152, p. 2.

É chegado o momento de tua luta! Estudante, operário, funcionário, trabalhador, organiza-te clandestinamente, arma-te e luta! Luta porque não podes consentir que as coisas permaneçam como estão.

São negras as perspectivas de nossa Pátria. Os grupos econômicos (latifundiários, industriais, banqueiros e grandes comerciantes) que vivem de tua angústia e de teu desespero, aliaram-se mais uma vez às forças armadas, aos militares traidores da Pátria e por meio da força, da calúnia oficializada, tomaram de assalto o poder, destituíram um governo legitimamente eleito pelo povo e deram a esse golpe o nome de “Revolução”. Sim, revolução porque este termo, que significa realmente movimento do povo sacrificado contra os opressores, serviu-lhes bem para mascarar seus sujos interesses, seu golpe contra o povo.

Dava o Brasil seus primeiros passos para a emancipação econômica, para desjungir-se das cadeias do imperialismo norte-americano, para livrar-se de um sistema agrícola semi-feudal baseado na exploração do camponês e na monocultura, somente vantajosa para os grandes possuidores de terra. Tentava-se uma reforma agrária que fizesse justiça aos que trabalham a terra. Tentava-se uma reforma agrária que fizesse justiça aos que trabalham a terra. Regulamentava-se a lei de remessa de lucros, encampava-se refinarias particulares cujos interesses eram lesivos à economia nacional. Iniciava-se um sistema de alfabetização e conscientização, em larga escala, das massas

Que sucedeu então?

Os grupos estrangeiros, vendo seus interesses colocados em segundo plano, os grandes latifundiários sentindo já fugir-lhes das mãos as rendas fáceis e polpudas da exploração, os industriais e banqueiros alarmados pelas constantes e justas reivindicações de seus assalariados, uniram-se à mais entreguista facção do exército num golpe para sufocar as aspirações populares. Instituiu-se um governo fascista. Todos os nacionalistas, defensores do povo, intelectuais, cientistas, artistas e trabalhadores progressistas foram expurgados, exilados ou presos sob torturas medievais, notórias, confessas e impunes. Anularam-se todos os atos populares dos governos anteriores. A pretexto de regulamentar o direito de greve, praticamente aniquilou-se esse direito. O atual ministro da educação, sonegador de imposto de renda, como remédio para esse mal, recomenda o tempo. Enquanto isso, aplia-se a miséria unida ao medo. Fazem-se negociatas lucrativas para as subsidiárias estrangeiras aqui instaladas (v.g. AMFORP). 60% da população não sabe ler. 65% vive no campo, em estado de miserabilidade extrema, escravizada pelo latifúndio. Do mês de março ao mês de outubro o custo de vida subiu em 100%. A cobrança de impostos dos assalariados foi aumentada e os salários congelados. Somente os militares recebem aumentos fantásticos e diárias ilegais de 35.000,00 durante os IPMs.

Lutemos contra tudo isso. Pacífica ou violentamente, conspiremos contra a ditadura militarista. Organizemos sabotagens e guerrilhas. Abriguemos e auxiliemos os que combatem o vergonhoso estado fascista aqui instalado.

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