Paranaenses na luta contra a ditadura militarista (1964)
Manifesto encontrado nas ruas da cidade de Curitiba em 03 de novembro de 1964, extraído do Arquivo Público do Estado do Paraná, disponível em BR PRAPPR.PB004.PT1306.152, p. 2.
É chegado o momento de tua luta! Estudante, operário, funcionário, trabalhador, organiza-te clandestinamente, arma-te e luta! Luta porque não podes consentir que as coisas permaneçam como estão.
São negras as perspectivas de nossa Pátria. Os grupos econômicos (latifundiários, industriais, banqueiros e grandes comerciantes) que vivem de tua angústia e de teu desespero, aliaram-se mais uma vez às forças armadas, aos militares traidores da Pátria e por meio da força, da calúnia oficializada, tomaram de assalto o poder, destituíram um governo legitimamente eleito pelo povo e deram a esse golpe o nome de “Revolução”. Sim, revolução porque este termo, que significa realmente movimento do povo sacrificado contra os opressores, serviu-lhes bem para mascarar seus sujos interesses, seu golpe contra o povo.
Dava o Brasil seus primeiros passos para a emancipação econômica, para desjungir-se das cadeias do imperialismo norte-americano, para livrar-se de um sistema agrícola semi-feudal baseado na exploração do camponês e na monocultura, somente vantajosa para os grandes possuidores de terra. Tentava-se uma reforma agrária que fizesse justiça aos que trabalham a terra. Tentava-se uma reforma agrária que fizesse justiça aos que trabalham a terra. Regulamentava-se a lei de remessa de lucros, encampava-se refinarias particulares cujos interesses eram lesivos à economia nacional. Iniciava-se um sistema de alfabetização e conscientização, em larga escala, das massas
Que sucedeu então?
Os grupos estrangeiros, vendo seus interesses colocados em segundo plano, os grandes latifundiários sentindo já fugir-lhes das mãos as rendas fáceis e polpudas da exploração, os industriais e banqueiros alarmados pelas constantes e justas reivindicações de seus assalariados, uniram-se à mais entreguista facção do exército num golpe para sufocar as aspirações populares. Instituiu-se um governo fascista. Todos os nacionalistas, defensores do povo, intelectuais, cientistas, artistas e trabalhadores progressistas foram expurgados, exilados ou presos sob torturas medievais, notórias, confessas e impunes. Anularam-se todos os atos populares dos governos anteriores. A pretexto de regulamentar o direito de greve, praticamente aniquilou-se esse direito. O atual ministro da educação, sonegador de imposto de renda, como remédio para esse mal, recomenda o tempo. Enquanto isso, aplia-se a miséria unida ao medo. Fazem-se negociatas lucrativas para as subsidiárias estrangeiras aqui instaladas (v.g. AMFORP). 60% da população não sabe ler. 65% vive no campo, em estado de miserabilidade extrema, escravizada pelo latifúndio. Do mês de março ao mês de outubro o custo de vida subiu em 100%. A cobrança de impostos dos assalariados foi aumentada e os salários congelados. Somente os militares recebem aumentos fantásticos e diárias ilegais de 35.000,00 durante os IPMs.
Lutemos contra tudo isso. Pacífica ou violentamente, conspiremos contra a ditadura militarista. Organizemos sabotagens e guerrilhas. Abriguemos e auxiliemos os que combatem o vergonhoso estado fascista aqui instalado.