As classes sociais no campo, Marta Harnecker

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4 min readDec 25, 2020

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Trecho traduzido do original ‘Clases Sociales y Lucha de Clases’, publicado em 1979 por Marta Harnecker e Gabriela Uribe.

  1. A GRANDE BURGUESIA AGRÁRIA.

Entendemos por grande burguesia agrária os proprietários ou arrendatários de grandes extensões de terra que contratam mão-de-obra assalariada para explorá-la. Existem distintas opiniões a respeito de como classificar este setor em alguns países da América Latina. Enquanto uns afirmam que se trata ainda de um setor no qual se encontram importantes resquícios de relações de produção ‘feudais’, outros sustentam que a penetração do capitalismo no campo é de tal intensidade que já não pode chamar o campo de setor semi-servil, muito pelo contrário, se trata de um setor capitalista, de uma burguesia industrial monopolista. Um argumento importante em favor deste último é o fato de que o campesinato deixou de trabalhar com seus próprios instrumentos, vendo-se obrigado a fazê-lo com os instrumentos do patrão: máquinas para o plantio e colheita, etc. Além disso, a maior parte do pagamento do trabalho se faz agora em dinheiro; o pedaço de terra concedido pelo patrão foi reduzido de tal maneira que o campesinato já não pode viver dos frutos que produz seu pequeno espaço de terra.

2. A BURGUESIA AGRÁRIA MEDIANA

Chamaremos de mediana a burguesia agrária dos proprietários ou arrendatários de terras que se utilizam permanentemente de mão de obra assalariada, mas em baixa quantidade, já que suas terras não são grandes o suficiente para dar trabalho a muitos camponeses. Eles trabalham suas terras, em geral, com as suas famílias e o fundo é com frequência neste setor, a única fonte de renda ou pelo menos a principal.

Estes setores geralmente tem contradições secundárias com a grande burguesia agrária. O proletariado deve saber explorar essas contradições, fazendo o máximo esforço para neutralizar a burguesia mediana e evitando que constituam um bloco único com os setores da grande burguesia agrária.

3. A PEQUENA BURGUESIA AGRÁRIA

Está formada por proprietários ou arrendatários de um pedaço de terra que trabalham diretamente eles mesmos e suas famílias, com seus próprios meios de produção, e vendem seus produtos no mercado. Este grupo só emprega mão de obra assalariada em forma excepcional. Como se trata de um grupo em contínua decomposição, devemos distinguir vários subgrupos. Ao primeiro subgrupo pertencem os que logram obter um excedente em dinheiro ou em produtos, ou seja, aqueles que ganham no ano mais do que precisam para seu sustento. Graças a isso podem contratar de maneira acidentada e para certas tarefas determinadas alguns trabalhadores, além de sua própria família.

Ao segundo subgrupo pertencem aqueles que trabalham somente para sua subsistência, não logrando produzir nenhum tipo de excedentes, portanto não podem contratar mão de obra assalariada.

O terceiro subgrupo está formado por aqueles camponeses que não conseguem cobrir sua necessidade de subsistência com o trabalho de sua própria terra, vendo-se obrigados, muitas vezes, a vez de forma temporária sua força de trabalho aos terratenentes do lugar. Esse grupo passa a constituir um semi-proletariado rural.

A pequena burguesia agrária tem todas as condições objetivas para ser cooptada para a causa do povo; ainda mais, é esse setor que pode apoiar de maneira mais decidida ao proletariado.

4. O PROLETARIADO AGRÍCOLA

Na maior parte dos países o proletariado agrícola é uma classe social muito mais recente que o proletariado industrial e mineiro já que durante muito tempo suas condições de trabalho tiveram um caráter muito mais semi-servil que capitalista. Por estas razões o proletariado agrícola não é uma classe absolutamente homogênea.

Devemos distinguir, num primeiro momento, o proletariado agrícola propriamente que está formado na verdade pelos trabalhadores dos latifúndios que vendem sua força de trabalho por um salário. Entre estes se encontram os que se caracterizam por ir de latifúndio em latifúndio vendendo sua força de trabalho nos períodos de plantio e colheita. São os trabalhadores que estão nas piores condições no campo, dado que passam grande parte do ano sem encontrar trabalho e vivem em condições muito instáveis, sem um lugar fixo onde podem se estabelecer.

Junto a este setor encontramos os que, apesar de também venderem sua força de trabalho por um salário e trabalharem com os instrumentos e maquinários do dono do fundo, conservam ainda algum pedaço de terra que cultivam eles mesmos com sua família e que pode dar-lhes alguns frutos. Este pedaço de terra os liga ao fundo, criando-lhes certas aspirações de converter-se em pequenos produtores independentes.

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