Teoria e prática devem marchar unidas, Victorio Codovilla

somos de acá
4 min readNov 29, 2021

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Das atas estenográficas do XI Congresso do Partido Comunista Argentino, realizado em agosto de 1946, transcrito em ‘Vigencia y Proteccion’, seleção de trabalhos de Victorio Codovilla.

O essencial a reter da linha política e tática estabelecida nas Teses é que, para chegar à formação de uma poderosa frente de luta pela libertação nacional e social, é preciso saber encontrar os diversos caminhos que levem a nos vincular estreitamente com os operários e as massas populares em seus locais de trabalho e de moradia, e a ajudá-los na organização das lutas pela obtenção de suas reivindicações imediatas. O essencial a reter é que essa frente de luta só poderá organizar-se e lograr êxitos importantes, se as forças operárias e populares que estão influenciadas pelo peronismo — que no momento atual representam o setor de maior gravitação na política do país — são conquistadas. E isto, repito, que é o essencial, compreenderam os camaradas da base que confessam honestamente não ter estudado a fundo as Teses.

É claro que reconhecer este mérito a estes camaradas não significa idealizar os filiados que não fazem sérios esforços para estudar e assimilar a linha política do partido e para elevar seu nível ideológico. A máxima leninista de que a teoria e a prática devem marchar unidas, é preciso levar sempre em conta, e neste caso mais que nunca, por tratar-se de camaradas ligados estreitamente às massas e que demonstram condições para transformar-se em quadros dirigentes.

Contudo, é de saudar o fato de que a imensa maioria dos filiados pertencentes a organizações de base do partido discutiram a justeza ou não da linha política e tática à luz da experiência, adquirida em sua aplicação. Este fato é tanto mais promissor para o partido, portanto — como se coloca nas Teses –, em geral, nosso partido formula acertadamente sua linha política e tática; mas entre a formulação e a aplicação existiram quase sempre, em maior ou em menor grau, uma separação. Creio que não faz falta insistir sobre a necessidade de que nos esforcemos por liquidar definitivamente esta contradição. A isso, contribui grandemente uma assimilação mais profunda da linha política e tática do partido, e uma utilização acertada da arma comunista da crítica e da autocrítica.

Nosso partido manterá sua independência política

Mas, camaradas, lembrem-se sempre que para que esta linha política e tática tenha êxito em sua aplicação, e beneficie os interesses da classe operária e do povo, é preciso que nosso partido mantenha, hoje mais que nunca, sua independência política.

O que quer dizer isso? Quer dizer que nosso partido impulsionará e apoiará resolutamente toda medida de governo que beneficie os interesses da classe operária e das massas populares, ou que tenda a reforçar a independência nacional; e criticará e se oporá ativamente a todos aqueles atos de governo que representem uma concessão aos elementos reacionários e pró-fascismo, e aos monopólios imperialistas e seus agentes. Os comunistas se colocarão decididamente à frente das lutas das massas pelo cumprimento das promessas feitas por Perón ao povo, e não nos deixaremos provocar por aliancistas e outros inimigos que estão interessados em criar um estado de beligerância entre os filiados de nosso partido e as massas operárias e populares que seguem Perón. Tudo isso em função de unir a classe operária e todo o povo em uma poderosa Frente de Libertação Nacional e Social.

Mas, repito, ao realizar essa política, o partido não pode nem deve renunciar, mesmo que por um instante, à sua independência política e ao seu direito de difundir seu programa de revolução agrária e anti-imperialista, e de propagar sua finalidade socialista.

Isto é tanto mais necessário por conta da realização desta linha política e tática — que conta desde sempre com êxitos importantes — o partido se encontra, e se encontrará cada dia mais, colocado sob duas pressões: uma que vem do campo das forças que formaram conosco a coalizão da União Democrática; outra, que vem do campo dos setores operários e populares do peronismo. Uns colocam nosso partido em guarda sobre possíveis deslizamentos em direção ao campo “inimigo” e até o criticam amargamente por terem se “entregado” ao peronismo. Os que agem assim, o fazem porque não compreendem que a política de apoio que presta nosso partido ao governo de Perón, tende a impedir os avanços da reação, do fascismo, do imperialismo e impulsioná-lo pelo caminho democrático e progressista. Outros nos reprovam porque não apoiamos incondicionalmente o governo de Perón. O fazem porque não compreendem que o apoio incondicional não ajuda os elementos democráticos do governo a desprender-se do lastro reacionário e pró-fascista, e porque não compreendem ainda que a solução de seus problemas não pode vir somente de cima, pela ação governamental, mas sim através de sua própria luta independente, de baixo.

É o caso de dizermos uns aos outros: não muito nem pouco. Tanto uma quanto outra pressão — e o quanto podem refletir em nossas próprias fileiras — tendem a desviar o partido da aplicação de sua linha política independente, e por conseguinte devem ser rechaçadas.

Além disso, ao aplicar esta linha é preciso levar em consideração que ela tende a unir na ação os setores operários e populares do peronismo — que representam uma parte considerável do movimento operário e popular — com os setores operários e populares dos partidos políticos que formaram a coalizão da União Democrática. Nossa linha política e tática tende, portanto, à aproximação de todos esses setores — e não a contrapô-los –, com a finalidade de impulsioná-los à luta comum para liquidar as forças reacionárias e pró-fascistas, e para desenvolver o movimento democrático e popular.

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