A importância do trabalho revolucionário entre as mulheres, Cecília Toledo
Texto traduzido do original “La importancia de la lucha revolucionaria entre las mujeres”, publicado no Dia Internacional da Mulher de 2006.
Em todos os grandes movimentos revolucionários da história, as mulheres sempre tiveram uma participação importante. A grande revolução russa de outubro de 1917 começou com uma greve das operárias têxteis de Petrogrado. Umas das maiores jornadas internacionalistas que os trabalhadores haviam realizado foi a luta pelo direito ao voto, que mobilizou mulheres de várias partes do mundo, fazendo marchas, discursos em atos públicos e sofrendo o peso da repressão. As numerosas lutas por direitos humanos que ocorreram no mundo todo, em diferentes épocas, sempre tiveram mulheres em suas primeiras colunas.
Toda essa história gloriosa, repleta de atos de coragem e determinação política, hoje prossegue em muitos países, mas a direção política do movimento está nas mãos da chamada Marcha Mundial de Mulheres, um aglomerado de ONGs e organizações reformistas, burguesas e social-democratas, que atuam basicamente sob a benção da ONU. Uma direção que está associada aos governos de frente popular e que vota todas suas políticas contra os trabalhadores e trabalhadoras. Com a recolonização de nossos países pelo imperialismo, cada vez mais mulheres tem como única alternativa o trabalho precário, sem nenhum direito trabalhista, convivendo com o trabalho escravo e a morte de mulheres. As reformas dos governos de frente popular, como o de Lula, eliminaram direitos históricos das mulheres como licença maternidade e direito a creche no local de trabalho.
A luta pela legalização do aborto, para evitar que milhares de mulheres morram ou fiquem com sequelas graves, é urgente, assim como a luta contra a violência doméstica e a transformação da mulher em objeto sexual, em escrava do lar, e contra o trabalho doméstico excessivo que a embrutece e a distancia da produção social. As mulheres hoje tem mais ilusões do que nunca, imaginando que os governos social-democratas como os do PT no Brasil vão resolver seus problemas com políticas assistencialistas. É preciso alertar as mulheres pobres e trabalhadoras, da cidade e do campo, que o capitalismo, em lugar algum, tem algo a oferecer-lhes. Recuperar o marxismo na luta de mulheres do mundo todo, recuperar a visão classista de sua opressão e exploração e, acima de tudo, explicar pacientemente às mulheres pobres do campo e da cidade que somente a revolução socialista poderá apontar o caminho para sua emancipação, é necessário e urgente recuperar a militância feminina para propor novamente, nos marcos da revolução socialista, todo o potencial revolucionário de luta pela libertação das mulheres, a parte mais oprimida e explorada da classe trabalhadora mundial.
Como apontou Lenin, sem a participação efetiva das mulheres será impossível fazer a revolução socialista. Conscientes disso, as direções reformistas e burguesas fazem todo o possível para separar as mulheres trabalhadoras e pobres da luta contra o capitalismo. Se esforçam ao máximo para apagar o caráter político e de classe das lutas das mulheres, ressaltando que é uma ‘questão de gênero’, que pode ser resolvida dentro do capitalismo. Ao não colocar como seu principal inimigo o imperialismo e o capitalismo, a direção mundial das mulheres hoje trabalha conscientemente para subtrair e debilitar as forças revolucionárias femininas. A visão de que a questão da mulher é um ‘problema de gênero’ é nefasta, porque leva as mulheres a uma política reformista, sem um viés de classe e as leva a confiar no capitalismo.
Hoje, infelizmente, somente os marxistas revolucionários e as marxistas revolucionárias dizem com clareza às mulheres que sua opressão está intimamente ligada à exploração capitalista, e que somente a luta contra a recolonização de nossos países, contra a exploração de nossas riquezas e de nossa mão-de-obra poderá resolver sua situação. Somos os únicos que mostramos claramente que a miséria, a degradação humana, a barbárie em que vivem milhões de mulheres no mundo é a maior fonte de sua opressão, e que as mulheres trabalhadoras tem que lutar de forma independente das mulheres burguesas, tem que levar suas lutas ao seio da classe trabalhadora através do socialismo.
O que mais vem mobilizando mulheres é a luta contra os efeitos da ALCA e dos PTBs, e da recolonização, que se traduzem em desemprego, precarização, perda de direitos historicamente conquistados. O desemprego masculino, a superexploração dos homens também é fonte de opressão para as mulheres. Isso as coloca ao lado dos homens da classe trabalhadora na luta contra o imperialismo e contra os planos de colonização do imperialismo.
As experiências do trabalho no âmbito internacional mostram que existe um grande espaço para a agitação e propaganda revolucionária entre as mulheres. Mostram também que elas demoram mais para entrar na luta, por causa da opressão, mas sendo sensíveis aos ataques do capital e da barbárie, quando decidem lutar são aguerridas e decididas.
A partir dos anos 1980 houve um aumento significativo da participação das mulheres nos sindicatos, nas greves. Este movimento deixou clara a importância da criação de secretarias da mulher nos sindicatos, como forma de aglutinar as companheiras, fazer despontar uma vanguarda e formar-se politicamente. As secretarias também cumprem um papel fundamental na sistematização do programa de reivindicações específicas das mulheres para ser integrado ao programa geral da classe trabalhadora.
Obviamente, este processo não se dá de forma igual em todos os sindicatos e tampouco é um processo tranquilo. Pelo contrário, de um modo geral se choca com o machismo que envenena a classe trabalhadora e que deve ser combatido sem trégua.
A intervenção da LIT no sentido de incentivar a discussão e a militância sobre a problemática da opressão da mulher tem também o propósito de combater os desvios machistas que podem existir em nossas fileiras. Fazemos das palavras de Lenin as nossas: “não se pode chamar de revolucionário um militante que tenha pré-conceitos e atitudes machistas”.